Mais um estágio desbloqueado
Desde que me foram abertas as portas para a droga lícita viciante,
o mundo do stand up, eu me imagino no palco de um teatro como atração principal
da noite, estando ele lotado de pessoas gritando meu nome, e com isso eu vejo
que está na hora de maneirar no ácido.
Acho que este é o melhor cenário possível para um comediante, um teatro
com as pessoas ali te assistindo. Claro que curto fazer show em bar, mas no
teatro você não concorre a atenção do público com nada, nem com cerveja, nem
com petisco e nem com narguilé (fuma que tá na moda). Eu não tenho essa atenção
dede a última vez em que fui pego de madrugada pelo camburão da PM enquanto
corria numa avenida escura (não entendi porque eles acharam essa atitude
suspeita).
O teatro não estava lotado, o show também não era meu, e as pessoas que
me conheciam cabiam na mão de um porco: o contratante e minha esposa. Acho que
nem cabe chamar o cara de contratante porque era um show beneficente e claro
que não cobrei meu cachê de um quilo de arroz. Eu fui mesmo pra fazer o
bem e pra bater uma meta minha de dizer “acende a luz da plateia”, e depois
dizer “apaga a luz da plateia”, e depois dizer “acende a luz da plateia”, e
depois dizer “apaga a luz da plateia”. Isso eu fiz numa perfeição adquirida de
horas treinando. Nota 10 nesse quesito.
Pior que não ser conhecido por ninguém do público foi ter que fazer um
show onde boa parte era de adolescentes organizados do lado direito que não
paravam de me chamar de lindo e dizer que sabiam beijar na boca. Nessas horas
eu sentia uma conselheira tutelar bater com o ECA na minha cara antes mesmo de
minhas respostas.

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